terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Histórias que não contam na escola... "Chapeuzinho Vermelho"

"Pela estrada afora eu vou bem sozinha..."

Poucos sabem, mas na verdade a música que ecoava pela floresta por onde a maligna Chapeuzinho Vermelho - ou Malu, como era conhecida na clínica de recuperação - caminhava era algo mais parecido com "Close your eyes look deep in your soul..."

Quase tudo estava arranjado! Os doces, os salgadinhos, o pernil assado que a vovó adorava. Cada passo a deixava mais ansiosa para ver sua vovó. Hoje era o grande dia. Iria se livrar daquela velha de uma vez. Aproximando-se da casa, recebeu uma mensagem no celular que dizia "Tudo pronto, minha gostosa! Tô te esperando!!!"

- Ai Jorge...

DIM DOM.

- Oi minha querida, tudo bom contigo? - Disse a vovó, cujos olhos brilhavam de alegria ao ver a neta tão querida, que tinha como filha. Trocaram beijos e abraços. - A mesa tá pronta meu anjo.

- Que bom, vovó! Tô morrendo de fome! E os meus anjinhos, como estão?

- Tão bem, lá fora. Você disse que ia trazer comida especial pra eles, então não lhes dei nada. Devem estar com fome... Que raça que eles são mesmo?

- Pitbull...

- Ah é... sempre esqueço... Quer ir lá fora agora?

- Não vovó, depois que a gente comer. Tô morrendo de fome.

A mesa com frutas, queijos, pães e frios ficou ainda mais rica com as empadinhas, os brigadeiros e o pernil assado de Chapeuzinho. "Ah, o pernil!" disse a vovó ao vê-lo, buscando uma faca na mesa para cortar a primeira fatia. Comeram bastante, embora Malu não tivesse encostado no pernil - É pra senhora vovó. Malu observava a vovó atentamente, suando frio, quando percebeu que o plano começaca a funcionar. A velhinha aos poucos foi ficando com sono, relaxando na mesa e finalmente apagou, com o corpo tombado na mesa. Agora era a hora!

Malu colocou o corpo da avó no chão, despejou sobre ela o molho do pernil e foi até o quintal. Lá, Átila, Cérbero e Judas - os 3 pitbulls famintos e furiosos que vovó tinha ganhado de presente de sua amada netinha não mais que 2 meses atrás - estavam presos no canilzinho que vovó carinhosamente preparara para eles. Ela abriu o portão e correu de volta pra casa, passando pelo corpo da vovó na cozinha, fechando rapidamente a porta da sala.

Os barulhos de monstros mastigando carne só era intercalado pela sua risada quase histérica, porém contida. Não demorou muito para a carcaça da doce velhinha - o molho era de amoras - ser devorada pelos animais ensandecidos. Em alguns instantes Chapeuzinho podia ser vista na janela urrando gritos de socorro. Um caçador que passava pelo local entrou correndo na casa pela cozinha e disparou contra as 3 feras, mas era tarde demais. A velhinha não tinha sobrevivido ao ataque.

...

- Bom, dona Malu. Eu sinto muito por o que aconteceu aqui. Esses cachorros são um perigo.

- Eu sei seu guarda - disse ela soluçando, em lágrimas - eu tentei ajudar, mas ela não conseguia correr... eu tive que... o senhor sabe - e chorou feito criança.

- Ainda bem que o senhor passava por aqui - Disse o policial. Poderia ter sido um desastre ainda maior - E virando-se para chapeuzinho - A senhora terá que nos acompanhar até a delegacia.

- Eu... eu... ela... ela era minha... eu... - seu pranto sobia de tom a cada palavra que tentava pronunciar.

- Pode deixar seu guarda, eu a levo - disse o caçador. Assim que ela se recompor...

- Ok então. Nos vemos lá. Precisaremos de algumas assinaturas do senhor também.

- Sem problemas.

O policial saiu e chapeuzinho permaneceu chorando nos braços do caçador por mais cinco minutos. Ele a abraçava com carinho, passando suas mãos pelas suas costas, até descê-las um pouco e beliscá-la na bunda. O efeito foi praticamente um botão mudando de rádio e tudo o que era choro virou gargalhada.

- E então, disse ele, estamos ricos?

- Podres de ricos. Aquela velha tinha mais dinheiro do que a gente consegue contar - e beijou carinhosamente o peito do caçador.

- E você tem certeza que fica tudo pra você?

- Sim, né!? Eu vi o testamento da velha antes de armar tudo isso. Tá pensando o quê? Tenho 15 anos mas não sou tão bobinha não - ela respondeu sorrindo com os olhos.

- Bom, pode apagar esse sorriso do rosto porque a gente tem que ir pra delegacia agora, e você tem que estar sofrendo, triste, como alguém que acabou de perder a avó.

E riram gostosamente - "Só você mesmo, Jorge... Só você..."

domingo, 28 de janeiro de 2007

Da intensidade do desejo

O toque macio da língua doce
que sobe e desce e beija e pede,
que faça ou esconda - que mostre ou provoque
mas que seja intenso,
que seja bem molhado.
Que, terno e quente, venha com força
Que alivie e afague.
Mas que leve ao delírio!

sábado, 27 de janeiro de 2007

Encontro às cegas

CASADO 45 SP pergunta: Quantos anos vc tem msm?

BONEQUINHA DE PANO responde: Tenho 22 querido... bem vividinhos rs

CASADO 45 SP revela: hmmmm... 22 aninhos... deve ter um corpinho todo gostoso...

BONEQUINHA DE PANO sorri: Fiz natação a vida inteira... dá pra ter uma base né? rsrs

CASADO 45 SP se surpreende: que delícia... mal vejo a hora de te encontrar... hehehe

BONEQUINHA DE PANO se empolga: E quando que a gente vai se ver? Tô que não me agüento de ansiedade... adoro homens mais velhos... vc disse que malha sempre né?

CASADO 45 SP se gaba de leve: pelo menos 3 vezes por semana nos últimos 10 anos... hehehe

BONEQUINHA DE PANO pergunta toda ressabiada: E o que nós vamos fazer mesmo? Nos encontramos no shopping e?

CASADO 45 SP se preocupa: Aí é que tá... vc sabe da minha situação... precisamos ser discretos. Podíamos nos encontrar dentro da sala de cinema, sala 4, penúltima fila, canto esquerdo. Que tal?

BONEQUINHA DE PANO ri: Nossa... que esquema FBI heim? rsrsrs... mas adorei! Escondidinho dá mais tesão..

BONEQUINHA DE PANO pergunta denovo: E depois do cinema? Pra onde vc vai me levar heim? rsrs

CASADO 45 SP flerta: Pro céu... hehehe

BONEQUINHA DE PANO fala toda saidinha: hmmmm... adorei... rsrs... Que horas nos vemos?

CASADO 45 SP esclarece: A sala 4 tem sessão às 2 da tarde... pode ser?

BONEQUINHA DE PANO sorri com malícia: Tá ótimo! Mas vc parece ter um esquema muito bem bolado pra quem tá fazendo isso pela primeira vez... hehehe

CASADO 45 SP esclarece: E quem foi que falou que é a minha primeira vez? hehehe... Já pulei a cerca outras vezes... ai de mim se a minha mulher souber... hehe

BONEQUINHA DE PANO dá uma risadinha e diz: Então combinado querido! Nos vemos lá... só tenho mais uma perguntinha... rsrsrs

CASADO 45 SP se acanha: Pode perguntar! Já imagino o que seja... hehehe

BONEQUINHA DE PANO se assanha: Qual o tamanho dele??? rsrsrsrsrs

CASADO 45 SP sussurra: Ele tem 22 cm... hehehe... tá bom pra vc??? heheh

BONEQUINHA DE PANO se deslumbra: Tá Ó-TI-MO. Só não vai me machucar heim? rsrsrs

CASADO 45 SP acha graça: Sem problemas. Beijo nessa sua boquinha gostosa.

BONEQUINHA DE PANO murmura: Outro na sua, tesão!!! Mal posso esperar pra te ver. Ah, vou de calça jeans e camiseta branca... Adoro um estilinho básico... rsrsrsrs

Passadas algumas horas, chega o momento do encontro. Bonequinha de pano foi quem chegou primeiro, comprou seu bilhete e sentou na penúltima fila da sala 4, no canto esquerdo. Sequer prestou atenção em qual era o filme, também não interessava. Estava ali para encontrar o seu amante casado e só pra isso. Ansiedade e euforia passavam por suas veias, como em todos esses encontros pela internet. Após 5 inquietos minutos sentado em sua poltrona viu um homem alto e forte, de terno, indo em sua direção. Virou o rosto, queria fazer um suspense. O homem sentou-se ao seu lado e colocou sua mão sobre sua nuca. Num movimento rápido, Bonequinha de pano se virou e enfiou sua língua com força dentro da boca do seu amante casado, maduro e tão atraente. Beijaram-se por longos minutos, mãos correndo pelos dois corpos. Sentiram tudo, suas peles, suas genitálias, o tesão do proibido, tudo! Quando o fôlego acabou e finalmente entreolharam-se, o primeiro a falar foi o mais velho, após um suspiro de susto:

- Carlinhos???

- Pai???

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Síndrome dos 20 e poucos

Uma nova doença ataca! Mais temida do que câncer, mais assustadora do que gripe asiática. Vítimas? Jovens entre 20 e 30 anos, classe média-alta, homens e mulheres de grandes centros urbanos brasileiros. Grande maioria com ensino superior completo, alguns até com uma pós-graduação no forno ou já pronta. Engenheiros, publicitários, administradores, advogados, fisioterapeutas, pra citar alguns. Pessoas qualificadas e cultas. A doença tem sido chamada de "Síndrome dos vinte e poucos".

Dentre os sintomas mais comuns estão: insônia, enxaqueca, ansiedade, depressão, queda na auto-estima e perda de apetite. É contagiosa e pode ser transmitida até por um mero telefonema, visto que sua transmissão é feita no processo de codificação e decodificação de mensagens emitidas pelo hospedeiro e recebidas por alguém ainda não infectado. Cuidado com e-mails pois, devido a flexibilidade e atalho de distâncias que proporcionam na comunicação, têm contribuído muito para a propagação da doença para regiões mais afastadas.

Vírus? Bactéria? Quem dera. O agente causador é uma mistura de fatores que agem diretamente no cérebro do paciente. Mercado de trabalho primeiro emprego dinheiro carro satisfação profissional salário tempo falta de experiência oportunidades estágio processo seletivo diploma especialização opções poder de compra dinâmica de grupo, assim, sem vírgula mesmo, rodeiam o dia-a-dia do enfermo, apertando o cerco, sufocando, até o dia em que a esperança, a força de vontade e outras organelas do sistema imunológico sucumbem e se entregam, condenando a vítima aos sintomas previamente citados.

Infelizmente médicos e patologistas do mundo todo não conseguiram até hoje a cura para essa doença. Não há vacina, xarope, comprimido ou antídoto que resolva. O tratamento vem sido feito à base de: incentivos, que atuam diretamente na auto-estima do paciente, fazendo com que ele acredite mais em si mesmo e encare as dificuldades de cabeça erguida; exaltação dos talentos do paciente, fazendo com que ele perceba que tem dentro de si toda a capacidade para lidar com situações adversas e muita determinação, visto que uma simples recaída pode por todo o tratamento prévio a perder.

Nosso cérebro assimila todos os tipos de informações, positivas ou negativas, que se aproximam. Cabe ao consciente de cada um filtrá-las e usá-las de uma forma construtiva. Molde o mundo ao seu gosto, antes que ele faça o contrário.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

O cavalheiro

Uma noite de amor, quente, confusa, ébria...

Ele acorda e balbucia algo parecido com um "Nooossssa". Olha para o lado e vê a mulher do outro lado da cama, de costas pra ele - Acho que é Juliana, pensa.

Cavalheiro, se levanta e prepara o café da manhã. Suco de Laranja, torradas, requeijão, frios, uvas e iogurte, tudo muito frugal. Surpreende-a com a bandeija na cama. Ela acorda, murmura alguns sons em alguma língua parecida com português, esfrega os olhos e se espriguiça. Passados alguns segundos, ela, agora entendendo a cena, diz:

- Nossa... fazia tanto tempo assim que você não transava?





Definitivamente não há mais espaço para o cavalheirismo no século XXI.

Conversa de bar



De todos os filósofos (leia-se bêbados) na mesa, Gerson era, como sempre, o mais sábio (leia-se bêbado).

- Aqui tinha que ser que nem no Oriente Médio - Roubou, corta a mão do cara! - com a palavra corta sendo enfatizada com um golpe de caratê da mão direita no punho esquerdo.

Antes que alguém pudesse argumentar, Gerson continuou:

- É por isso que essa merda de país tá nessa merda! Todo mundo faz o que quer e não pega nada, NADA! Pra mim tinha que ser assim: roubou corta a mão, estuprou corta o pau...

Felipe, terminando o chope, interveio:

- E quem compra carteirinha da OAB? A gente corta o quê?

Ricardo e Juninho caem na risada, o primeiro engasgando com o chope, que quase escapa pelo nariz.

- Isso é um crime sem vítimas, não machuca ninguém... E aliás, é só burocracia. Nem quero advogar, meu negócio é ser juíz.

- E isso é um crime sem vítimas? O país inteiro vai sofrer com isso, tendo esse exemplo de cidadão no judiciário - Juninho, acendendo o cigarro no canto da boca, rindo com os olhos para Ricardo que quase engasga denovo.

- Bota um som aí, Mané!

- Já vai... Já vai...

- É disso que eu tô falando - Ricardo chama a atenção de todos apontando para as três morenas que acabaram de entrar no bar - Ah, eu amo o verão...

- Mas então, tinha que ser assim. Leis e punições rigorosas! Pena de morte pra quem matou! Esses desgraçados tinham que pagar na mesma moeda. Mil vezes ter um ou outro homem bomba se matando por aí do que neguinho telefonando de dentro da cadeia mandando explodir ônibus e matar gente na rua.

- Olha a bunda da de vermelho... Meu Deus...

- E o decote da do meio...

- Nada mal, né?

Ficaram alguns segundos quietos contemplando o trio de morenas recém chegadas, cada um com seu sonho secreto mais pervertido que o do outro. O silêncio foi cortado por Ricardo:

- Porra Mané, bota um som aê!!!

- Já vai... Já vai...

- Então já trás mais duas pra gente, gritou Juninho, ainda com o cigarro no canto da boca.

- Acho que meu negócio é ir pro legislativo. Botar ordem nessa bagunça pela raíz - Dessa vez Gerson falou um pouco mais alto pra tentar impressionar a trinca de beldades, que sequer esboçaram a menor reação ao seu comentário.

- Mas cara - Felipe botando o copo na mesa - esse tipo de radicalismo nas leis nunca viria sozinho. Tem uma série de mudanças culturais que são causas e conseqüências disso. Já parou pra pensar nisso?

- Por exemplo?

- Tá, no Iraque roubou, cortou a mão... Falou palavrão, cortou a língua, beleza... Mas as mulheres lá andam todas cobertas de pano, só se enxerga os olhos delas e olhe lá. Imagina um verãozão como esse, você sentado num boteco e entram três morenas daquelas enroladas numa manta. Nenhuma sainha curta, nenhum peitinho. Sequer um umbiguinho de fora. E daí? Qual a graça de viver nesse país???

Os três gargalham, enquanto Felipe continua:

- E então? Se você tivesse que escolher entre um país com leis rigorosas onde ladrão de galinha perde o braço ou um país em que as gostosas pagam peitinho e usam mini-saia no verão? Qual você prefere? Não se pode ter tudo cara...

- É... aquela de branco é muito gostosa...

- Muuuuuito - Juninho diz soprando fumaça.

Finalmente a música começa, disparando um grito de "aêêêêêêê" da mesa. Entra Caetano com sua voz suave "Isso aqui iôiô, é um poquinho de Brasil iáiá...

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Medo do Desejo

A magia dos olhares não acontecem quando se cruzam, mas sim quando se evitam. Ali sim, se assumem e se desmascaram. Encarar alguém nos olhos é fácil, mas tente evitar o olhar de alguém que te encara. Abre-se um túnel que passa direto pelas suas fraquezas e chega a na origem dos seus medos, expondo tudo aquilo que te faz ver o "eu" que você mesmo tinha esquecido que existia.

É aí que entra a magia! Esse eu escondido é indefeso, às vezes covarde, ingênuo, inseguro, cheio de falhas e defeitos. Puro! Mas é esse "eu" que te faz sorrir ao ver uma criança brincando na rua ou chorar ao se despedir de um amigo. É ele que acredita no absurdo e ri alegre das coisas mais simples.

E foi assim, quando desviei meu olhar que vi a força da paixão que sentia. Paixão que não quer saber de mais nada, que vive tudo o que deseja, que não liga pra dor, que arrisca. Paixão de fazer besteira, daquelas de beijar na chuva e cantar sozinho na rua...

Mas o medo não tarda, e cobre a paixão com lágrimas do passado e cartas de amor queimadas. Aquele desejo todo, tão intenso e sincero, encontra desculpas satisfatórias e tudo que era quente fica morno. A vontade que tava literalmente na ponta da língua, deixa um gostinho amargo e a vida volta ao normal, pálida e inerte. Dentes que mordiam lábios estampam sorrisos amarelos.

Daí os olhos se cruzam denovo, já frios e cinzas, sem intimidade e sem brilho. Assim, almas apaixonadas e confusas se torturam, não pelo pecado que queriam, mas pelo prazer que não tiveram, culpa do medo que sentiram.

Valendo...

E por que não? Todo mundo tem um.
O máximo que pode acontecer é ficar de saco cheio...