terça-feira, 25 de novembro de 2008

Roda, roda, roda e avisa...

Salve galera!

A reta final da faculdade tem me consumido muito tempo, deixando o blog à deriva mais uma vez...

Mas logo logo começam as férias, tanto da facul quanto do trampo, e textos novinhos devem aparecer!

Enquanto isso, sugiro os blogs que acompanho e, pra quem ainda não leu, dê uma passada nos textos antigos aqui do Poesia e Palavrão.

Obrigado pelas visitas e pelos comentários sempre inspiradores!

Abraços e beijos!

Henrique Fogli

domingo, 16 de novembro de 2008

Use a guerra!

Gangues assolavam o Brasil há muito tempo. Punks, carecas, skin heads, whitepowers, neonazistas, idiotas de todos os tipos que só mudam de fantasia e de tatuagem. Tudo isso por uma busca inútil e vazia de supremacia, fundamentada em absolutamente nada de concreto, na qual quem bate mais e apanha menos, ganha. O quê? Nenhum deles sabe responder... Mas essa onda de violência deve ter um fim. Todas as gangues e seus afiliados encontram-se para resolver suas adversidades de maneira civilizada e inteligente. O estádio do Pacaembu é palco do I campeonato de xadrez inter-gangues do Brasil. Ali eles pretendem assinar tratados de não-agressão e submissão baseados no desempenho lógico e estratégico de seus líderes. O xadrez, um ícone dessas virtudes no mundo ocidental, foi escolhido e aceito por todos envolvidos. Curiosamente nenhuma autoridade acompanha o espetáculo. Punks e neonazistas farão a primeira partida. No momento inicial, ao sortear as peças de cada jogador, o punk, ao ver o resultado, diz: - Eu sou branco, você é preto. - O quê??? Uma corrente atinge o rosto do líder punk que reage com um golpe de navalha. Assim, como cachorros no cio, todos ali dentro reagem com o mesmo instinto e tudo aquilo que havia sido previamente estabelecido vai por água abaixo. O estádio, com suas portas trancadas, não permite que ninguém consiga fugir. Um a um, membros de todas as gangues vão caindo por terra; ferimentos gravíssimos, fraturas expostas, mortes súbitas. São tiros, facadas, correntadas pra todos os gostos e ninguém sai vivo. Os últimos são os que morrem com mais dor, por complicações dos ataques sofridos e hemorragias. No dia seguinte, milhares de pessoas vão até a arena para contemplar o resultado do evento. Eles são negros, nordestinos, homossexuais e tantos outros alvos das extintas falanges. A decomposição dos corpos expostos, feridos das mais diversas maneiras, exala um aroma doce, deixando a certeza do despertar de um mundo melhor.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Falando sozinho?

Sabe o que eu não entendo?

O quê?

Tem um episódio do Pica-Pau no qual o Zeca Urubu vende um cão falante pro Pica-Pau... Já viu esse?

Sim. Até que é um rato falante que fica escondido embaixo do chapéu do cachorro.

Aham. Mas depois descobrem que o cachorro realmente fala e o Pica-Pau se dá bem.

Isso mesmo.

Então. É muito maluco. Um urubu que fala, um pica-pau que fala e um rato que fala, todos na maior naturalidade. Por que que nesse mundo um cachorro falar é algo inusitado? Todos os bichos falam...

É verdade!

Pois é...

E você sabe o que eu não entendo?

Não. O quê?

Como a lóigca de vocês é invertida.

Invertida como?

É o inverso da nossa. Não que uma seja mais certa ou mais errada que a outra. Elas são simplesmente invertidas.

Exemplifique!

Pois bem. Se um cara chegar em uma mulher e falar a seguinte frase: toda gordinha usa decote. Se essa mulher estiver de decote, vai entender isso como uma ofensa. Vai sentir-se chamada de gorda, certo?

Certo!

Mas então, se você parar pra pensar o acarretamento lógico da coisa é outra. Afirmar que toda gordinha usa decote não é nada parecido com afirmar que todo mundo que usa decote é gorda.

Mas pode ser o jeito que você fala!

Sim, mas imagina uma situação livre de conotações ou ironias. Imagina isso sendo posto como um fato.

Tá, mas...

- Ele calou a boca dela com um beijo. Fizeram amor até de manhã cedo.

- Fizeram amor?

- É.

- Hmmm...

- Não curtiu?

- Se eu fosse você não simplificaria tudo em uma frase no final. Seria mais descritivo, mais detalhista. Colocaria pedaços da intimidade dos dois: o jeito que ela olha pra ele, por exemplo.

- Entendi.

- Mas, se fosse mesmo fechar com uma frase, acho que esse "Fizeram amor" poderia ser revisto.

- Que tal: "Ele calou a boca dela com um beijo. Treparam e fizeram amor até de manhã cedo..."

- Beeem melhor...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Casigual

Fernando e Fernanda eram parecidos não só no nome. Ambos ficaram assustados com as semelhanças desde a primeira vez que conversaram.

- Escritor?
- Veríssimo.
- Érico ou Luís?
- Luís.
- Ele é demais.

- Beatle favorito?
- Ringo, lógico.
- Eu também acho! E o coitado é tão desvalorizado.
- Pois é, né?

- Carne ou frango?
- Carne!
- Vinho ou cerveja?
- Cerveja, é claro.

E por aí foram. Se apaixonaram em poucos dias. Não se desgrudavam. Eram almas gêmeas. Casaram. Foram pra Veneza na lua de mel, idéia dos dois. Tiveram gêmeos. Ele escolheria o nome do garoto e ela o da garota.

- Pensei em Mário, que tal?
- Achei lindo!
- E pra menina?
- Maria! Que acha?
- Perfeito.

Os anos foram passando. O casamento chegou no auge e, como tudo que chega no auge, começou a cair. Apesar dissom, nunca discutiram. Foram esfriando. Não conversavam mais. Ele atolado de trabalho, ela não saía do ateliê. Ele achava que a culpa era dele, mas botava a culpa nela. Ela imaginava que a culpa era dela, mas preferia pensar que a culpa era dele. Foram ficando distantes. Não se conheciam mais. Ela engordando, ele perdendo cabelo. Os filhos cresciam naquele ambiente cinza, coisa que Fernando não achava saudável. Fernanda tampouco. Ele pensou em tentar mudar as coisas, fazer uma loucura romântica, reacender a chama da paixão, mas decidiu esperar que ela o fizesse. Ela, teve a mesma idéia, e esperava o mesmo. Uma certa noite, antes de dormir, já com as luzes apagadas, falaram, quase em uma só voz.

- Preciso conversar com você.
- Pois não querida. Diz.
- Acho que é melhor a gente se separar.
- Eu também acho.
- Não tá mais dando certo.
- Não mesmo.
- O que será que deu errado?
- Não sei.
- Eu também não.
- A gente se dava tão bem...
- Não que a gente se dê mal hoje...
- Não mesmo.
- Mas do jeito que tá, não dá.
- Ah não.
- Amanhã eu vou pra casa da minha mãe...
- Tudo bem.

Trocaram beijos de boa noite e dormiram com o problema resolvido.