terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Medo do Desejo

A magia dos olhares não acontecem quando se cruzam, mas sim quando se evitam. Ali sim, se assumem e se desmascaram. Encarar alguém nos olhos é fácil, mas tente evitar o olhar de alguém que te encara. Abre-se um túnel que passa direto pelas suas fraquezas e chega a na origem dos seus medos, expondo tudo aquilo que te faz ver o "eu" que você mesmo tinha esquecido que existia.

É aí que entra a magia! Esse eu escondido é indefeso, às vezes covarde, ingênuo, inseguro, cheio de falhas e defeitos. Puro! Mas é esse "eu" que te faz sorrir ao ver uma criança brincando na rua ou chorar ao se despedir de um amigo. É ele que acredita no absurdo e ri alegre das coisas mais simples.

E foi assim, quando desviei meu olhar que vi a força da paixão que sentia. Paixão que não quer saber de mais nada, que vive tudo o que deseja, que não liga pra dor, que arrisca. Paixão de fazer besteira, daquelas de beijar na chuva e cantar sozinho na rua...

Mas o medo não tarda, e cobre a paixão com lágrimas do passado e cartas de amor queimadas. Aquele desejo todo, tão intenso e sincero, encontra desculpas satisfatórias e tudo que era quente fica morno. A vontade que tava literalmente na ponta da língua, deixa um gostinho amargo e a vida volta ao normal, pálida e inerte. Dentes que mordiam lábios estampam sorrisos amarelos.

Daí os olhos se cruzam denovo, já frios e cinzas, sem intimidade e sem brilho. Assim, almas apaixonadas e confusas se torturam, não pelo pecado que queriam, mas pelo prazer que não tiveram, culpa do medo que sentiram.

2 comentários:

Anônimo disse...

já que não existe perfeição, eis aí um texto que se aproxima muuuuuuuuito dela.

:)

Anônimo disse...

O texto é sen sombra de dúvidas, perfeito!!!


" Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação"