terça-feira, 17 de junho de 2008

A única pessoa que acreditou nessa história...

- Foi assim:


- "Alô?

- Alô, quem fala?

- Você quer falar com quem?

- Com alguém... tô precisando conversar...

- E você liga assim pra qualquer pessoa?

- Sim. Você tá ocupado?

- Tô no trânsito. Não posso ficar falando que vou levar multa.

- Tudo bem. Isso é típico mesmo.

- Típico?

- É... típico de homem... Nunca podem parar um minuto pra ouvir uma mulher desabafar...

- Olha, acontece que eu tô ocupado agora...

- Claro claro... os seus problemas sempre vêm antes. Eu entendo...

- Mas eu nem te conheço! Que maluquice é essa?

- Não me conhece né? Mas se tivesse me visto num barzinho ou numa festa isso não seria nenhum problema... Vocês são todos iguais mesmo...

- Que papo. Você tá drogada?

- Como você é grosso. Não pode parar pra me ouvir por 5 minutos? Eu tô precisando conversar.

- Se eu levar multa você paga?

- Aff... que cavalheiro.

- Ai Meu Deus.. Tá bom. Me diz. O que que tá acontecendo? Qual o teu problema?

- É a Ritinha...

- Que que tem a Ritinha?

- A gente tá juntas há um tempo, sabe? E eu queria assim...

- Vocês estão juntas??? Como assim? Vocês namoram?

- Namorar não, mas a gente tá ficando faz um tempinho, sabe?

- Sei! E o que que a Ritinha te fez?

- Então, ela quer que a gente saia com o Felipe, mas eu não gosto dele. Ele é um porco. Eu queria que fosse outro cara...

- Outro cara? Que outro cara?

- Sei lá, qualquer um menos o Felipe. Um cara legal, bonzinho, gente boa, sabe? Não o cretino do Felipe...

- Te entendo querida. Fala direitinho com a Ritinha. Quem sabe eu posso te ajudar a conversar com ela?

- Ai jura?

- Claro. Eu sou psicólogo, trabalho com terapia de casais.

- Ia ser o máximo! Você parece ser legal! Como é seu nome?

- Carlos. E o seu?

- Luiza. Olha, a Ritinha chega do ensaio à tardezinha. Vai passar aqui na agência pra me pegar e a gente podia tomar um chopinho, que acha?

- Ensaio? Agência?

- É... ela é madrinha da bateria de uma escola de samba daqui da zona norte. E eu trabalho numa agência de modelos... A moça ouve barulhos de buzina, freada brusca e xingos pelo telefone - Tá tudo bem?

- Tá, tá... quase bati o carro aqui. Então, como eu encontro vocês?"

...

- Daí a gente marcou, eu fui lá e comi as duas!

- Claro, claro.

- Duvida?

- Nãããão... a vida é assim mesmo!

- Se duvida então toma! Liga pra ela agora!

- Dá o telefone que eu ligo! Pergunto o quê? Você é a doida que ligou pro Carlos pra arrumar uma transa por telefone?

- Pergunta o que quiser. Porra, ela ligou de número não identificado...

- Ah, vai te foder Carlinhos...

...

Era a quarta vez que Carlos contava a história e não convencia. Nem seus amigos mais chegados conseguiam o esforço necessário pra acreditar nisso que mais parecia um conto de fadas urbano. Passava por mentiroso, daqueles que gostam de contar vantagem. A riqueza de detalhes com que narrava só dava um ar mais fantasioso pra maluquice toda. Após perceber que era impossível o contato com as misteriosas e bissexuais estranhas, Carlos começou a fazer expedições de busca na zona norte da cidade, em todas as escolas de samba que encontrava, em busca da mulata que o desconcertara na outra noite. Como disso não surgia nenhum efeito, passou a procurar a modelo maluca que havia desencadeado aquela história sem nexo em sua cabeça com aquele telefonema absurdo. Nada. Teria sonhado aquilo? Ritinhas e Luizas voavam suavemente por entre todas as suas idéias, fixas. Com o tempo o próprio Carlos passou a duvidar do que ele mesmo chamara de melhor noite da sua vida. Perdeu noites de sono, emagreceu, voltou a beber. Durante um dia qualquer, no mesmo horário daquela peculiar ligação, seu celular toca com a mesma informação de número não identificado. Ele atende. Uma voz feminina diz alô sem tempo pra mais nada. Carlos começa um apelo desesperado, pedindo um contato, um abraço, uma troca de olhares que seja. Diz que é capaz de tudo por outra noite daquelas - a melhor de toda uma existência. Quase chora. Emocionado, sente um frio na espinha quando a mulher que o ouvia responde a sua súplica.

Aquele calafrio que a gente sente quando faz uma merda.

Era a mulher dele.

9 comentários:

Diogo Melo disse...

Hahahahahahahaha !!!

As pessoas só acreditam mesmo naquilo que elas querem acreditar =P

Ou, no mínimo, naquilo que elas não podem arriscar não acreditarem e, inevitavelmente, acabar se revelando verdadeiro...

Thiago da Hora disse...

Carlou quis demais até em sonhos...

Anônimo disse...

Achei que seu blog tem muita poesia e pouco palavrão. Então vamos equilibrar a coisa:
Seu boceta do caralho, seu merda, que cu é aquele filho da puta de "surgia" que você, seu porra, seu viado, seu bicha, seu chupador de rola escreveu no lugar do "surtia". Revisor de bosta. Vá se foder.
beijos do Titio e da irmãzinha.

Parmitaum disse...

Opa... quanto amor familiar ai encima ein!!! hehehe
Cara, Hittler ja dizia... "Minta de forma que voce acredite em sua propria mentira".
Mais o bacanal foi demais, pede pra ele escrever cronicas junto com o Nelson Rodrigues... hehehe


abraço

Rafael Hecht disse...

Boa, hahahhaha
Me diverti lendo!!
http://www.vasconautas.blogspot.com

Yaayah disse...

HAHAHAHA,Q ENGEÇADO

Dedinhos Nervosos disse...

hahahahah
Esse cara é um infeliz mesmo!
ahahahha

Anônimo disse...

Eu sabia que ao acessar iria encontrar alguma coisa para me divertir, a-do-rei! E o comentário do titio, kakakakakakakak, só podia ser da sua família mesmo!!! kakakakaka
Vc está cada vez melhor!

Anônimo disse...

Caralho... muito bom mesmo

Sempre duvidarei das historias.... foda-c... a ignorancia eh confortante