- Sabe quando você recebe aqueles e-mails cheios de fotos de bebês e acha tudo aquilo uma graça?
- Sei.
- Ou quando você vê uma cena violenta e aquilo te desagrada? Te traz um impulso, uma vontade de fechar os olhos, ou mudar de canal, ou sei lá o quê?
- Sim, sim...
- Ou ainda quando você vê algo nojento, sei lá, alguém vomitando, e te dá vontade de vomitar?
- Sei, credo... só não sei onde você quer chegar!
- Então, todas essas cenas, essas coisas, provocam reações fortes nas pessoas, né? O simples fato de presenciar uma coisa dessas embrulha o estômago, traz nojo, enfim, sensações breves porém intensas, certo?
- Certo.
- Pois então. Quando você sorri eu sinto algo mais intenso que todas elas.
- Como assim?
- Te ver sorrindo, ouvir sua risada, presenciar sua felicidade me traz paz. Eu fico fascinado, encantado, me sinto feliz também. É como se a sua alegria tomasse conta de mim. Me dá vontade de rir à toa. Fico chapado!
- Nossa...
- Pois é... acho que nasci pra te fazer feliz. Nada me faz tão feliz quanto isso.
- Que lindo... não sei nem o que te dizer.
Nunca soube. Trocaram beijos. Ele sentindo gosto de paixão, ela sentindo gosto de vergonha. Todas aquelas sensações não passavam de palavras. Palavras vagas, nebulosas. Os calafrios corriam pela espinha dele a todo momento; cada centímetro da pele dela que era tocado devolvia um choque elétrico daqueles que prende, não dos que repelem. Ela, envergonhada por não saber sentir nada daquilo, perdia-se nos movimentos de sua língua, desajeitada, esforçando-se para não desmontrar o vazio que tinha dentro de si. Ele, sentindo esse vazio o tempo todo, preferiu levar sua vida de forma egoísta, atendo-se apenas aos seus sentimentos, percebendo sua paixão como estúpida - aquela que pensava ser o suficiente. Ficaram nus, ela se pôs submissa na cama, como se ajudasse uma velhinha a atravessar a rua.
- Você tá me machucando...
E ele seguiu. Rindo e machucando por dentro.