quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chupa essa manga

- Pensa comigo...

De repente quase tudo na sua rotina muda. Você começa a acordar mal-humorado, e as pequenas coisas do dia-a-dia te irritam profundamente. Os compromissos desaparecem e o tempo livre enche sua vida de tédio melancólico. O sorriso das outras pessoas o ofende. A preguiça toma conta do seu corpo e da sua mente, evitando que você produza qualquer tipo de fruto útil. Ao invés disso você senta em frente uma máquina fria buscando pedaços de atenção de pessoas - todas mais bonitas, mais bem-sucedidas e mais interessantes que você - que têm mais o que fazer. Nada.

Daí surgem os planos. Sonhos com o acaso. Algo que vá transformar aquela vida em algo mais digno. Começar a correr, parar de fumar, fazer trabalho voluntário. Um monte de cretinices das quais você vai desistir assim que arrumar qualquer coisa pra fazer que o tire dessa neblina. Mas nada o tira dali. Você começa a se enxergar de uma maneira diferente, buscando ser especial, ter algo a dizer, ser importante para alguém. Nada.

Você cruza os braços e tenta lembrar quando foi que sua vida saiu dos trilhos. Recorre ao passado minuciosamente e descobre a farsa que é sua vida. Ela nunca esteve em trilho nenhum. Você que se apoiava nas coisas erradas para se sentir melhor, para sentir o gostinho daquilo que chamam de felicidade e que você tanto viu nos filmes. Os feriados na praia, o carro do ano, o celular que toca mp3, nada disso chamou a sua atenção. Você chama de fútil as pessoas que se empolgam com coisas assim...

Mas no que você se apóia?

Você quer um trabalho que pague suas contas. Uma mulher pra dividir a cama ao final do dia. Um apartamento nem pequeno nem grande pra ter o seu conforto. Você quer um churrasco de final de semana com os amigos, tomando uma cervejinha gelada, jogar um baralhinho, ouvir as mesmas piadas de sempre. Você procura uma conversa que te faça esquecer do tempo, uma alma que te olhe e abra os braços dizendo "pode vir, vulnerável desse jeito".

Você busca interação. Contato com outras vidas, outros olhos, pessoas que te convençam, que mudem seu jeito de ser. Pessoas que te apliquem regras e rótulos, dos quais você vai reclamar com toda força, porque é isso que elas esperam de você. Você quer aprovação constante, quer amor, carinho, risadas e aplausos. Tudo isso e qualquer outra coisa que o esconda da terrível verdade que o assola.

Você tem nojo da sua vida.

Tanto nojo que quando nada disso acontece você se esconde, sob algum pretexto qualquer. Daí você se olha e se sente burro, medíocre, feio, fraco. Até pensa em projetar isso nas pessoas pra conseguir de volta aquele calor humano que tanto te faz falta, e acaba se sentindo ridículo por ter esse impulso. E essa é a sutileza que ninguém percebe quando imerso na auto-piedade: o quanto seus impulsos são ridículos.

Todos seus impulsos foram assim. Você sempre teve que pensar duas mil vezes pra conseguir algo relativamente agradável na sua vida. Tudo o que foi impulso, o que foi inato da sua mente ou consciência, sempre foi uma manifestação ridícula, pobre, infantil, fraca, medíocre. Você lembra das suas notas na escola, em tudo o que pode ser qualificado como desempenho em toda a sua vida e tenta reerguer-se. Mas não é esse o assunto; isso foi só mais um instinto ridículo de auto-piedade tentando te animar.

Mas não consegue.

O que te anima é um "eu te amo". É a sensação de que alguém que conheça essa variedade de fracassos que é a sua vida possa conseguir dizer essa frase. Frase que literalmente não significa nada, cada um constrói seu significado. E quanto mais nojo você tiver da sua vida, mais maravilhosa essa frase vai soar ao seu ouvido.

Mas eu tenho amor próprio, você grita!

E vomita catorze frases prontas, provérbios e orelhas de livro que leu sobre o assunto. Sente-se auto-suficiente! Vai pra rua e come uma vagabunda. Enche a cara, se enclausura em lugares barulhentos com pessoas das quais você não se interessa. Tudo isso funciona bem, como um analgésico que tira a dor mas também o apetite.

Você definha.

Daí acaba no seu quarto, remoendo-se em auto-piedade, perguntando-se porque diabos as coisas funcionam desse jeito. Buscando uma luz que o guie no caminho da auto-aceitação, prende-se no passado e supervaloriza o futuro. Abre uma revista e vê as pessoas fazendo mil plásticas pra se sentirem mais bonitas. Chama-as de doentes.

Mas o que você mudaria na sua vida?

Menos barriga? Menos trabalho? Mais amigos? Mais amor?

Seriam essas coisas mais dignas que um nariz empinado? Ou a impossibilidade de concluí-las na sua vida é que as dão um pseudo-caráter sublime?

A resposta que você procura não está em nenhuma dessas perguntas...

O que você tem que se perguntar é (!)

(Triiiimmmm)

Nosso tempo acabou. Bom final de semana.

13 comentários:

Eslley Scatena disse...

Assustador hein!

Lua- Eu Crio Moda disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Hum...
Que deprê, heim?
Quando começar pensar nessas coisas, sai dar uma volta, esparecer, olhe o horizonte, as coisas ao seu redor.
Vai se sentir melhor.
Bjo bjo

http://pequen4prendiz.blogspot.com/
http://pequen4prendiz.blogspot.com/

RJ disse...

eu ví algo de comum entre o seu texto e minha rotina... claro que nem sempre, mas de vez em quando bate essa sensação msm!

Erich Pontoldio disse...

É um processo de auto conhecimento...vc poderá descobrir que no fundo do poço tem uma mola que te levará pra cima novamente.



Nova comunidade para divulgar seu blog com tópico único para comentar no blog acima ... PARTICIPE AGORA MESMO


http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=72726533

Anônimo disse...

São os impulsos que te fazem sentir vivo...de amor, de raiva, de desejo...de alguns a gente se arrepende mesmo...mas outros podem salvar...simpls assim!

Anônimo disse...

vou mandar esse texto prum amigo meu. é a cara do cara. não esquenta que vou pôr seus créditos e o endereço do blog.

www.osfilhosdoshippies.blogspot.com

Anônimo disse...

ô meu...nariz empinado é super digno!!!

Tatiana Lazzarotto disse...

Poxa, Henrique. Que tapa na minha cara. Tá doendo até agora.
Gostei do seu blog, cara.
Quando eu me esquecer desse tempo e voltar para o pc de novo (lógico, pq agora eu vou sair daqui e viver minha vida de forma supimpa) eu ire ler mais.

Abraço

tatilazz.zip.net
mulheresdeathenas.blogspot.com

Tatiana Lazzarotto disse...

ops
esquecer desse texto, e não tempo.
irei e não ire.

teclado retardado.

Anônimo disse...

O melhor texto de todo o BLOG!!!
Mas valores cada um determina para si, prefiro ter mais barriga e mais amigos do que um nariz empinado e um carro do ano, pois amigos apoiam, criticam, te emputecem, te escutam, a plastica deteriora, o carro fica velho, o amor morre...a amizade e talvez a barriga, são duas constantes eternas no universo.

... disse...

Amei, como sempre!!!
Você foi metódico e sinistro, ao mesmo tempo.
Muita gente se encaixa neste perfil, inclusive eu, às vezes, quando tudo está perdido e eu me sinto um lixo humano!
Beijossssss...
Keep writing!

Gabriel Queiroz disse...

Deve ser legal ter um blog e escrever como você faz.
O que deve ser complicado é ler os comentários das pessoas que passaram e perceber que vários não entenderam NADA do que você quis dizer, outros acham que você está realmente deprê só porque escreveu um texto deprê, entre outras coisas. O bom é que facilita aquela parte do: "Vai pra rua e come uma vagabunda".

Abrazzz