Douglas acordou tranquilo. Era um dia normal. Só após o banho, depois de todas rotineiras atividades matinais que disse em voz alta, assustado, como se alguém fosse ouvi-lo:
- Tá tudo cinza!
Douglas acordara enxergando tudo em tons de cinza. O verde das plantas, as cores dos lindos quadros que decoravam sua sala de estar, até as cores da televisão. Tudo era uma variação de tons de cinza.
- Só pode ser sonho!
Mas não era.
- Deve ser a ressaca...
A dor de cabeça sim. Mas o mundo cinza não. Tentou se lembrar da noite passada. Ela tinha sido colorida, disso tinha certeza. Algo teria acontecido enquanto dormira? Tentou se lembrar da última recordação de cor que tinha em mente. Eram os olhos azuis de Mariana, sim, aqueles lindos olhos azuis, de um azul escuro sem igual no mundo. Mas eles estavam vermelhos. Mariana chorava, chorava muito. Dizia coisas, gritava com ele. Ele não se lembrava das palavras. Não sabia o que era sonho e o que era lembrança mais. Resolveu ligar pra ela.
- Alô Mari?
- Seu cachorro!
Era tudo o que precisava ouvir. Tudo ficara claro, ainda que em tons de cinza. A Juliana e ele... a Mariana chegando... abrindo a porta... vendo os dois... a risada de Juliana... ele seguindo Mariana... aqueles olhos azuis, enormes, brilhantes como pérolas, cheios de lágrimas... ela jogando a aliança... Até então tava tudo colorido. Até o tapa foi em cores.
- Calma Mari... não é nada do que você tá pensando... Ele a puxava pelo braço.
- Eu não tô pensando nada Douglas... eu vi! Ela, desvencilhando-se dele, andava com pressa em direção ao carro.
- Olha pra mim Mari, fala comigo.
- Eu tô com nojo de olhar pra você. De falar com você. Some da minha vida.
- Pára meu amor. Não fala assim... vem cá que - Um tapa não o deixou terminar a frase.
- "Meu amor" o caralho! Nunca mais me chama de "meu amor". Você perdeu esse direito quando enfiou seu pinto naquela vagabunda. Como você pôde?
E antes que ele conseguisse pensar em, ou dizer qualquer coisa, ela tinha alcançado dentro do carro uma espécie de fichário - Tá vendo isso aqui?
- Sim - bem baixinho e miúdo.
- Isso aqui é um álbum, cheio de poesia e desenho, contando a história dos nossos 5 anos juntos. A idiota aqui ia te dar de presente hoje. Passei o dia inteiro pintando essa merda, colando fotos... e pra quê, heim? Eu olho pra isso agora e sabe o que vejo? Vejo tudo borrado e cinza...
- Pára amor, que exagero...
- Exagero é? Pois é assim que me sinto... tá tudo sem cor, sem vida. E se jogar um amor no lixo como você acabou de fazer não mexe contigo quem sabe amanhã, quando você olhar pra esse álbum, sóbrio e com um pouco mais de vergonha na cara, você consiga ver graça e cor nele. Porque eu não consigo mais.
Foram as últimas palavras dela. Depois disso arrancou o carro e sumiu. Ele pegou o álbum e voltou pra Juliana. Mais tarde voltou pra casa.
Sua vida estava literalmente cinza sem Mariana. O álbum era lindo até sem cores. Pensou em dar um jeito nessa loucura toda e pegou o telefone novamente. Folheava página por página calmamente enquanto ninguém atendia sua ligação. Finalmente um alô o saudara do outro lado da linha e marcaram de se encontrar na mesma noite. Ele, lógico, levou o álbum consigo.
Chegando no lugar do encontro, Douglas, ainda dentro de um mundo todo cinza, deu um abraço apertado e um beijo molhado na sua garota. Trocaram palavras aparentemente sinceras de amor e carinho. Quando ela viu o álbum, não prendeu o riso. Ria alto, de escárnio, um riso que saía com força do peito. Ria mais a cada página que virava. Suas gargalhadas pularam para a boca de Douglas que só então percebia que os olhos cinzas de sua parceira começavam a tomar cor. Um mundo cinza sem Mariana? Não com os lindos olhos verdes de Juliana sorrindo por perto...
- Tá tudo cinza!
Douglas acordara enxergando tudo em tons de cinza. O verde das plantas, as cores dos lindos quadros que decoravam sua sala de estar, até as cores da televisão. Tudo era uma variação de tons de cinza.
- Só pode ser sonho!
Mas não era.
- Deve ser a ressaca...
A dor de cabeça sim. Mas o mundo cinza não. Tentou se lembrar da noite passada. Ela tinha sido colorida, disso tinha certeza. Algo teria acontecido enquanto dormira? Tentou se lembrar da última recordação de cor que tinha em mente. Eram os olhos azuis de Mariana, sim, aqueles lindos olhos azuis, de um azul escuro sem igual no mundo. Mas eles estavam vermelhos. Mariana chorava, chorava muito. Dizia coisas, gritava com ele. Ele não se lembrava das palavras. Não sabia o que era sonho e o que era lembrança mais. Resolveu ligar pra ela.
- Alô Mari?
- Seu cachorro!
Era tudo o que precisava ouvir. Tudo ficara claro, ainda que em tons de cinza. A Juliana e ele... a Mariana chegando... abrindo a porta... vendo os dois... a risada de Juliana... ele seguindo Mariana... aqueles olhos azuis, enormes, brilhantes como pérolas, cheios de lágrimas... ela jogando a aliança... Até então tava tudo colorido. Até o tapa foi em cores.
- Calma Mari... não é nada do que você tá pensando... Ele a puxava pelo braço.
- Eu não tô pensando nada Douglas... eu vi! Ela, desvencilhando-se dele, andava com pressa em direção ao carro.
- Olha pra mim Mari, fala comigo.
- Eu tô com nojo de olhar pra você. De falar com você. Some da minha vida.
- Pára meu amor. Não fala assim... vem cá que - Um tapa não o deixou terminar a frase.
- "Meu amor" o caralho! Nunca mais me chama de "meu amor". Você perdeu esse direito quando enfiou seu pinto naquela vagabunda. Como você pôde?
E antes que ele conseguisse pensar em, ou dizer qualquer coisa, ela tinha alcançado dentro do carro uma espécie de fichário - Tá vendo isso aqui?
- Sim - bem baixinho e miúdo.
- Isso aqui é um álbum, cheio de poesia e desenho, contando a história dos nossos 5 anos juntos. A idiota aqui ia te dar de presente hoje. Passei o dia inteiro pintando essa merda, colando fotos... e pra quê, heim? Eu olho pra isso agora e sabe o que vejo? Vejo tudo borrado e cinza...
- Pára amor, que exagero...
- Exagero é? Pois é assim que me sinto... tá tudo sem cor, sem vida. E se jogar um amor no lixo como você acabou de fazer não mexe contigo quem sabe amanhã, quando você olhar pra esse álbum, sóbrio e com um pouco mais de vergonha na cara, você consiga ver graça e cor nele. Porque eu não consigo mais.
Foram as últimas palavras dela. Depois disso arrancou o carro e sumiu. Ele pegou o álbum e voltou pra Juliana. Mais tarde voltou pra casa.
Sua vida estava literalmente cinza sem Mariana. O álbum era lindo até sem cores. Pensou em dar um jeito nessa loucura toda e pegou o telefone novamente. Folheava página por página calmamente enquanto ninguém atendia sua ligação. Finalmente um alô o saudara do outro lado da linha e marcaram de se encontrar na mesma noite. Ele, lógico, levou o álbum consigo.
Chegando no lugar do encontro, Douglas, ainda dentro de um mundo todo cinza, deu um abraço apertado e um beijo molhado na sua garota. Trocaram palavras aparentemente sinceras de amor e carinho. Quando ela viu o álbum, não prendeu o riso. Ria alto, de escárnio, um riso que saía com força do peito. Ria mais a cada página que virava. Suas gargalhadas pularam para a boca de Douglas que só então percebia que os olhos cinzas de sua parceira começavam a tomar cor. Um mundo cinza sem Mariana? Não com os lindos olhos verdes de Juliana sorrindo por perto...