quarta-feira, 21 de março de 2007

Liberdade de Imprensa

Um terrível acidente na Avenida Paulista. Um ônibus se chocou contra um carro, no cruzamento com a rua Pamplona, ferindo 6 passageiros e, infelizmente, matando as 2 mulheres e as 4 crianças que estavam no Celta. Nossa repórter Kelly Kristina tem mais informações.

- É isso mesmo, Paula. Um acidente TERRÍVEL, TRÁGICO acidente aconteceu há pouco mais de uma hora aqui no coração da cidade de São Paulo. Os feridos já foram levados para hospitais da região, mas os corpos das vítimas fatais permanecem presos nas ferragens. Encontramos 2 homens que parecem ser os respectivos maridos e pais das vítimas e vamos tentar falar com eles.

A câmera focaliza dois executivos, de terno, um com cerca de 40 anos, cabelo grisalho, um pouco mais alto que o outro que aparenta uns 28, 30 anos. Eles se abraçam, o mais novo soluça e chora no ombro do mais velho que não esboça reação, apenas observa o carro retorcido, reduzido a pedaços de metal sem forma.

- Boa tarde senhor. O senhor conhecia as vítimas? A repórter aproxima o microfone dos dois, chamando a câmera.

Nenhum deles reage. O mais novo tenta formular palavras de desabafo, em meio ao seu pranto, mas nada se articula. "Close nele".

- Tivemos informações de que as vítimas seriam suas mulheres e filhos. Isso é verdade? - Pergunta ela aos dois.

O mais novo cai de joelhos em pleno asfalto, transtornado. Leva as mãos ao rosto, se desespera. O mais velho continua impávido. Policiais tentam dispersar a multidão de curiosos. "Esquece o tumulto, foca no chorão ali" Kelly sussurra para o câmera.

- Kelly, você já sabe as causas do acidente?

- Ainda não Paula, mas sei sim que a DOR que esses homens devem estar sentindo é sem precedentes. Acabam de perder as mulheres e os filhos. PERDERAM SUAS FAMÍLIAS NESSE INFELIZ ACIDENTE. Vamos tentar um depoimento. ESPERA, ESPERA, parece que temos um sobrevivente.

Ambos dirigem-se para perto do carro onde conseguem ouvir uma criança chorando. É impossível vê-la devido a posição do carro, de ponta-cabeça amassado contra a parede de uma banca de jornal.

- Parece ser um garoto, vamos tentar nos aproximar.

"Julian, é você? Aqui é o papai! Vai ficar tudo bem! Você tá bem?" grita o mais novo, buscando espaço entre as ferragens para tentar visualizar o garoto. O mais velho continua mudo. A criança grita de dor, chora muito. Diz que não consegue se mexer e sangra muito. Cada frase da criança é repetida pela repórter, incrivelmente, com mais dramaticidade ainda. Até que, finalmente, a criança não reage mais. O pai esmurra o carro gritando pelo seu filho até que os policiais o afastam.

- É muita emoção aqui Paula. Vamos tentar novamente conversar com o pai da criança. Senhor, como é ouvir os últimos GRITOS de SOCORRO de seu PRÓPRIO FILHO e dar toda SUA FAMÍLIA como MORTA numa manhã normal de segunda-feira?

O mais novo sequer percebe a presença da repórter. O mais velho, agora sim, reage, e desfere um soco no queixo da repórter que a nocauteia instantâneamente. A última imagem gerada do local do acidente é algo parecido com alguém pegando a câmera e jogando-a no chão.

Paula, surpresa com a interrupção da matéria, quase pega de surpresa pela câmera, em tom melancólico: "É.. realmente é muito triste que hoje em dia, depois de tantas lutas para um país mais justo, a liberdade de imprensa ainda receba repressões como essa. Aquilo não é um homem, e sim mais um monstro que freia e distorce a democracia e seus princípios. Esse foi o Jornalismo Já. Tenham uma boa tarde".


10 comentários:

Anônimo disse...

acho que as vezes a imprensa se da liberdade demais, e muitas vezes a quantidade de librdade acumulad as imprensa pode fazer com que noticias erradas possam chegar a extremos muito grandes, como também podem promovrer muiitas coisa, otimo post. passa la no meu, abraços

http://www.ericksouza.com.br/blog

Diego Moretto disse...

Dae Henrique...caramba q história! E o pior que abusos como este acontecem muito em telejornais, principalmente aqueles com apelo dramatico, como os de fim de tarde...é triste, mas é real. Muito bom msm, parabe´ns!

Diego Moretto disse...

Heim, que post meu vc comentou?? acho que não deu certo...tenta la de novo, abs!

Iuri Botão disse...

Brilhante!
Mas permita-me defender o lado dos jornalistas, uma vez que pretendo me tornar um: profissionais que fazem comentários brilhantes como estes deviam ter caçados seus MTBs, se mais.
Abraço

Anônimo disse...

Belo post!


ah! Obrigado pelos votos de boa sorte e pode deixar, não vou abandonar meus leitores não.

Abraços!

P.S.: Vi que tem o meu link no seu blog, assim que eu me ajeitar por aqui vou colocar teu link como parceiro.

Anônimo disse...

legal o post.
parabens...

Vanessa Lee disse...

Parece ser só uma historinha de blog, mas se vê tantas dessas invasões de intimidade e respeito a dor alheia que o que mtos repórteres as vezes merecem um murro, sim!

Vanessa Lee disse...

Parece ser só uma historinha de blog, mas se vê tantas dessas invasões de intimidade e respeito a dor alheia que o que mtos repórteres as vezes merecem um murro, sim!

Vanessa Lee disse...

Parece ser só uma historinha de blog, mas se vê tantas dessas invasões de intimidade e respeito a dor alheia que o que mtos repórteres as vezes merecem um murro, sim!

Anônimo disse...

Triste isso, né... é uma pena que uma categoria que rala tanto pra ter reconhecimento seja "manchada" por atuações tão estúpidas assim.... e olha que isso acontece sempre!!! Mais uma vez, parabéns!!