quinta-feira, 14 de junho de 2007

Quando o amigo se vai

Era um sábado ensolarado, mais ou menos por volta da hora do almoço. Um grupo de amigos é abalado por uma notícia triste.

- Alô!
- Alô, Beto?
- Fala Marquinhos, tudo bom cara?
- Mais ou menos. Ficou sabendo do Cabeça?
- Putz... fiquei. Quem diria né?
- A gente nunca acha que vai acontecer com alguém próximo da gente...

O Cabeça, junto com o Beto, o Marquinhos, o Cabelo, o Serginho, O Naldo e o Arara eram um grupo de amigos da época das bolinhas de gude. Cresceram juntos, e como a vida vai ficando corrida, começaram a se encontrar cada vez mais esporadicamente, mas sempre com a mesma intimidade.

- Alô, Cabelo?
- Fala Beto, beleza?
- Não cara... ficou sabendo do Cabeça?
- Pô, eu que avisei o Marquinhos e o Naldo. A Done Elzira ligou aqui perguntando se a gente vai lá.
- Eu não vou cara. Não curto. É uma choradeira, muito barra pesada pra mim.
- O Naldo também não vai.

Claro que o Naldo não ia. Todo mundo sabia que ele não suportaria. O Cabeça era o mais novo da turma. Perder um amigo nessas condições era mais do que trágico e o Naldo não conseguiria conter as lágrimas. Apesar do Cabelo sempre ter sido o mais próximo do Cabeça, o Naldo era filho único, e tinha o Cabeça como um irmão mais novo.

- Não vou, Serginho.
- Mas Naldo, a Dona Elzira, o seu Mendonça, todo mundo espera que a gente vá.
- Eu sinto muito. Mas não vou!
- Até o Arara vai. Tá vindo de Araraquara.
- Pois eu e o Cabelo não vamos. A gente combinou de tomar uma em memória do Cabeça. No Saideira.

O Saideira. Quantas cervejas aquele grupo todo tomara no boteco do seu Mané. Lembranças enchiam a cabeça de Naldo, enchendo seu peito de saudade e seus olhos de lágrimas. O Cabeça, meu Deus, tão novo. Acho que foi lá que ele conheceu a Claudinha.

- Pois é. A Claudinha.
- Eu sempre falei que aquela mulher era capaz de tudo, Arara.
- É. Eu lembro. Você vivia falando que ela ainda matava o Cabeça do coração.
- Pois é né? Quem diria!

Sim. O coração. O coração matara Cabeça. Roubara-o de seus amigos de uma maneira covarde, cruel até. O ingênuo Cabeça, sempre tão companheiro, abandonara os parceiros de uma vida toda assim, prematuramente. Seus amigos usariam preto aquele sábado.

- Vamos Carlinhos, sai desse telefone. Vai se arrumar.
- Já vou mãe. Você vem né Arara?
- Vou sim. Tô na estrada já. Afinal, talvez seja a última vez que eu te veja.
- Credo Arara. Até parece que morreu alguém. Eu só tô casando, cara.
- Não enche, Cabeça.

11 comentários:

R Lima disse...

Triste mas real... essa morte em vida é foda... e cada vez mais é impossível dela recuar..

Pena q já n podemos ser nós mesmos e mesmo ir ali na esquina tomar um choppinho.. é um ato de guerra..

Abç,


[ http://oavessodavida.blogspot.com/ ]

O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...

Pedro Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Ferreira disse...

Muito boa!! Mas acho que o casamento não necessáriamente representa a "morte" pra uma pessoa. Com sabedoria dá pra fazer de tudo um pouco. Pena que são poucas as pessoas que conseguem esse feito. Aliás, eu mesmo não sei se vou conseguir.

Abraço.

David Faustino disse...

Como sempre, bons textos eu leio aqui...
Muito criatvo...
adoro um supense.. mandou bem cara...

Anônimo disse...

Qualquer semelhança é mera coincidência né...

Curti bastante hein!!

Abrass

Vanessa Lee disse...

hahahahahahahahahahaha

Amei! Amei! Mto bom mesmo!!!!

Eu bem que do meio pro final eu desconfiei que o Cabeça não havia morrido!

hahahahahahahahahahahahaha

O Antagonista disse...

Cara, primeiramente tenho que parabenizá-lo pelo blog. Muito, mas muito interessante mesmo.

Quanto ao texto, você falou tudo. Eu, por exemplo, fazia parte de uma turma de 4 ou 5 na Universidade, foi um período maravilhoso. Mas depois que concluímos o curso, dois casaram (eu fui o segundo) e a turma esfriou muito... casamento de amigo de turma é quase como uma morte mesmo. Infelizmente!

Parabéns pelo texto e pelo blog mais uma vez!

Wagner disse...

Meu, muito Luis Fernado Verissimo esse texto! hehehehe

Anônimo disse...

Simplesmente amei!!!! Cada dia fico mais curiosa quando vejo que tem texto novo no blog.... parabéns!!!

Climão Tahiti disse...

HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAH

Final foda... =-D

Me identifiquei com ele... =/

Anônimo disse...

Nossa! E eu que quase chorava pela morte do rapaz, aí descubro que ele ia casar....
Bom texto, só não posso deixar meu namorado ler. Não sei qual seria a reação rsrsrrs

Parabéns!!